Histórias de imortalidade e ressurreição sempre fascinaram a humanidade. É por isso que experimentos têm sido realizados para tentar ‘enganar’ a morte através da criogenia. Esta prática envolve a preservação do corpo em temperaturas extremamente baixas, com o objetivo de, no futuro, possivelmente reviver um indivíduo que já faleceu.
A esperança é que, quando a medicina avançar e desenvolver tratamentos mais eficazes contra as doenças que atualmente assolam a humanidade, como o câncer, doenças crônicas e outros, esses indivíduos possam ser trazidos de volta à vida.
Apesar de parecer algo “louco”, existem algumas instituições que fazem esse processo atualmente: a Alcor Life Extension Foundation, a Cryonics Institute, ambas nos Estados Unidos, e a KrioRus, na Rússia. De acordo com os números divulgados, existem cerca de 350 corpos de pessoas mergulhadas em tanques de nitrogênio líquido. Entre elas, a lenda do beisebol Ted Williams (1918 – 2002), o ator Dick Clair (1931 – 1988) e o programador pioneiro das bitcoins, Hal Finney (1956 – 2014).
Vale ressaltar que a criogenia é praticada com eficiência em vários casos, como preservação de células, tecidos e órgãos para transplantes. Por exemplo, a criopreservação de espermatozoides, óvulos, embriões e células-tronco tem sido bem-sucedida em algumas situações, contribuindo para tratamentos de fertilidade e pesquisas médicas.
No entanto, a prática em seres humanos ainda não alcançou resultados significativos. As discussões se concentram mais em considerações éticas, científicas e práticas, e ainda não há evidências conclusivas de sua eficácia na preservação e reanimação de seres humanos.
O ceticismo da comunidade científica
Por se tratar de um experimento que acredita que a ciência do futuro terá condições de trazer essas pessoas de volta à vida, ele ainda não desperta muito interesse das pessoas. Além disso, existe muito ceticismo por parte da comunidade científica, que chega a classificar esse tipo de criogenia como um charlatanismo, onde trariam falsas esperanças para as pessoas.
Muitos cientistas e profissionais médicos céticos argumentam que o processo atual não é viável, pois o congelamento pode causar danos irreparáveis às células e tecidos. Além disso, a reanimação bem-sucedida no futuro implica avanços médicos e tecnológicos que atualmente estão fora de alcance.
Outra questão ética envolve a natureza especulativa da criogenia, já que não há garantia de que a ressuscitação seja possível ou bem-sucedida. Algumas pessoas veem a criogenia como uma esperança de prolongar a vida ou encontrar uma cura para doenças incuráveis, enquanto outros a consideram uma prática pseudocientífica com pouca base empírica.
Qual o preço de se submeter ao processo de criogenia humana?
Como você pode imaginar, não é nada barato para os pacientes se submeterem a um processo como esse. A criogenia ainda está engatinhando cientificamente e, dessa forma, precisa de equipamentos muito específicos e caros.
O preço de um serviço do gênero pode chegar a 1 milhão de reais. Caso o cliente busque uma opção “mais em conta”, ele pode optar por congelar somente a cabeça e esse tratamento custa em torno de 400 mil reais.
Existe criogenia humana no Brasil?
Ainda não existe nenhuma empresa brasileira que realize o procedimento criogênico em seres humanos no Brasil. Isso acontece, entre outros motivos, porque a legislação brasileira não versa acerca de casos de congelamento de humanos, portanto, não há um amplo entendimento jurídico sobre como deve acontecer tal procedimento.
No aspecto cultural, também existem barreiras em relação ao processo de criogenia em humanos dentro do nosso país. Trata-se de uma questão que afeta os campos da bioética, religião, social e jurídica, algo que, certamente, atravanca a discussão sobre a criogenia humana no Brasil.
Vale ressaltar, no entanto, que apesar da falta de amplo entendimento jurídico sobre o caso, O Superior Tribunal de Justiça (STJ), em 2019, determinou que a legislação no Brasil não proíbe integralmente a execução do processo de criogenia. A instituição enfatizou que, na falta de previsão legal específica, o juiz deve tomar decisões com base na analogia, nos costumes e nos princípios gerais do direito.
Brasileiros que recorreram ao processo de criogenia
Alguns brasileiros recorrem a clínicas fora do Brasil que realizam a criogenia para preservar corpos de parentes falecidos. Um dos casos mais famosos é do engenheiro Luiz Felippe Dias de Andrade Monteiro, cuja família recorreu a uma empresa com sede em Michigan, nos Estados Unidos para utilizar o procedimento de conservação de seu corpo.
Monteiro residia no Rio de Janeiro junto com sua filha. Em 2012, após o seu falecimento e em conformidade com o desejo expresso por ele, sua filha o encaminhou para ser submetido ao processo de congelamento nos Estados Unidos. Mas o processo não foi tranquilo, duas irmãs de Monteiro entraram na justiça alegando o desejo de sepultá-lo na forma tradicional. A justiça brasileira acabou decidindo por manter o corpo do engenheiro em solo norte-americano.
Outro caso que ganhou notoriedade recente, foi o do desenvolvedor de software de software Vinicius Vilela, que aos 29 anos já está pagando para ter seu corpo congelado quando morrer. O jovem é natural de Osasco-SP, mas reside em Toronto, no Canadá, desde 2019. A empresa escolhida por Vinícius para realizar o procedimento da criogenia foi a Alcor, uma empresa americana que possui muitos anos de experiência nesse tipo de tratamento.
A situação de Vinicius chamou a atenção do “Fantástico” da TV Globo, que realizou uma matéria sobre seu caso. Em entrevista concedida ao programa, o jovem afirmou: “Desde bem novo mesmo, desde adolescente, sempre fui uma pessoa bem apegada à vida, digamos assim. E sempre com um tipo de pesquisa em como que eu posso ter mais longevidade, como eu posso ser saudável o suficiente para poder continuar vivendo essa vida maravilhosa”. Para a realização da criogenia, Vinicius terá que desembolsar uma quantia próxima de R$ 1 milhão, que será pago em prestações.
Existe algum futuro para esse tratamento na ciência?
Essa é uma pergunta difícil de responder, mas por enquanto não existe qualquer comprovação científica da criogenia em seres humanos ser eficaz. Apesar dos progressos observados em estudos e experimentos com órgãos, a possibilidade de reanimar corpos inteiros permanece distante. A elevada complexidade e custos associados à criogenia humana, aliados aos desafios de ordem científica, ética e legal, conferem a essa prática uma controvérsia significativa.
Por ora, a criogenia ainda não é capaz de enganar a morte e, infelizmente, talvez nunca o faça. Apesar de fascinante, o experimento ainda se cumpre apenas em obras de ficção científica.