China restringe fãs de anime e cosplay com censura e detenções

Casos de repressão a cosplayers e novas restrições a animes com temas considerados “sensíveis” revelam como a cultura pop japonesa parece ter virado alvo de controle.
Lucas Morais em 5/set/25, atualizado 5/set/25 às 09h – Compartilhe: , ,
Menina de cosplay e um policial. Produção fictícia. Imagem: Eu, Brasileiro.
Menina de cosplay e um policial. Produção fictícia. Imagem: Eu, Brasileiro.

Nos últimos anos, a China tem intensificado um movimento de censura que preocupa turistas, estrangeiros e amantes de animes e jogos japoneses: O que antes era apenas uma questão voltada a censuras em plataformas de streaming, parece ter se tornado mais amplo, atingindo censuras relacionadas a importação de obras de origem japonesa e cosplays.

Um dos casos mais marcantes ocorreu em 2022, quando uma jovem em Suzhou foi abordada pela polícia por usar um quimono durante um ensaio fotográfico inspirado em um anime. O policial a acusou de falta de patriotismo, confiscou sua roupa e a manteve sob interrogatório por horas, além de obrigá-la a apagar registros do momento. A situação gerou grande repercussão nas redes sociais chinesas, mas as discussões logo foram censuradas.

A repressão também há em eventos oficiais. Em 2025, a ChinaJoy — maior convenção de cultura pop do país — divulgou uma lista de animes e jogos proibidos, como Death Note e Parasyte, alegando que violariam valores fundamentais e a ordem pública. Convenções regionais, por sua vez, foram canceladas após pressões regulatórias.

Seguindo o contexto, em Jiuquan, um nacionalista armado agrediu uma jovem cosplayer vestida de quimono, acusando-a de promover uma “invasão cultural” japonesa. O episódio viralizou nas redes internacionalmente e recebeu apoio de parte dos internautas, evidenciando o avanço do sentimento antijaponês no país.

Neste vídeo do canal “Paahtis”, é visto mais casos e filmagens de chineses agindo com agressividade contra cosplayers e fãs de anime, também chineses, em locais públicos.

Vídeo do canal Paahtis sobre os casos recentes de repressão à fãs de anime no Youtube

Sobre o caso do ensaio fotográfico

Em um vídeo publicado na rede social chinesa Weibo, a jovem explicou ao policial que estava apenas fazendo uma sessão de fotos. Ele respondeu: “Se você vier aqui vestindo Hanfu, eu não diria isso. Mas você está vestindo um quimono, como uma chinesa. Você é uma chinesa! Você é?”.

Ao perguntar calmamente por que estava sendo repreendida, ouviu como resposta: “Sob a suspeita de provocar brigas e causar problemas”.

A jovem relatou que foi interrogada por cerca de cinco horas, até 1h da manhã, teve o celular revistado, as fotos apagadas e o quimono confiscado. Segundo ela, a polícia ainda pediu que escrevesse uma carta de autocrítica de 500 palavras e a advertiu a não comentar o caso online.

Em post no Qzone, outra rede social chinesa, desabafou: “Sinto que não tenho dignidade agora… Gosto da cultura japonesa, da cultura europeia e também gosto da cultura tradicional chinesa. Gosto de multiculturalismo, gosto de assistir anime, é errado eu gostar de alguma coisa?”.

Mais tarde, publicou no Weibo: “Desculpe, eu não deveria ter desconsiderado o sentimento público de andar nas ruas com roupas japonesas, isso é um comportamento errado e perigoso, tendo ferido nossos sentimentos nacionais”.

O portal CNN tentou entrar em contato com a polícia na estação de Shishan, perto da rua do acontecido, mas não obteve sucesso. A menina envolvida na ocorrência também não respondeu ao portal de notícias.

Governo amplia censura a animes e mangás

O governo chinês tem ampliado os critérios de censura sobre os animes. Em 2025, começaram a surgir restrições contra obras que retratam rebeliões contra autoridades ou que apresentem romances entre adolescentes do ensino médio, um dos pilares narrativos de diversas produções japonesas. Em um cenário que compromete não apenas a oferta de conteúdos internacionais, mas também impacta a produção de novas obras, que passam a evitar temas considerados sensíveis para não serem barradas.

A justificativa oficial para essas medidas é a “proteção da juventude” e a promoção de conteúdos considerados saudáveis pelo governo, alinhados a valores morais defendidos pelo Estado. Desde 2021, já havia esforços nesse sentido, com a proibição de desenhos violentos ou com apelo sexual. No entanto, especialistas apontam que a política vai além da moralidade: trata-se de um mecanismo de controle ideológico. Histórias que falam de rebeldia, diversidade ou mesmo de relacionamentos considerados “não adequados” desafiam a narrativa oficial e, por isso, são alvos.

Outro exemplo é o combate ao gênero danmei, focado em romances entre personagens masculinos. Obras do tipo vêm sendo banidas ou fortemente editadas desde 2021, e em 2025 várias jovens autoras foram presas por produzirem ficção erótica com essa temática. O governo enxerga esses conteúdos como ameaças ao modelo de masculinidade que deseja reforçar, ampliando ainda mais os limites da repressão.

A ofensiva contra os animes evidencia como, na China, a cultura pop deixou de ser apenas entretenimento para se tornar parte de uma disputa política. A questão envolve não apenas o direito de consumir ou se vestir como personagens, mas também a preservação de uma forma de expressão cultural ligada à diversidade, à imaginação e, em muitos casos, à crítica social.

Enquanto os fãs buscam maneiras discretas de “sobreviver” nesse cenário, permanece a dúvida sobre até onde o governo pretende avançar com tais restrições.

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