BioShock é um aclamado jogo de tiro em primeira pessoa lançado em 2007, desenvolvido pela Irrational Games e publicado pela 2K Games. Ele rapidamente se tornou um marco na história dos videogames por sua mistura única de ação intensa, ambientação sombria e narrativa profunda com fortes elementos filosóficos. Ambientado na cidade subaquática de Rapture, o jogo se destaca pela sua atmosfera art déco decadente, explorando temas como o livre-arbítrio, objetivismo e a natureza humana quando livre de restrições sociais e éticas.
O título combina jogabilidade envolvente com uma narrativa madura e complexa, onde o jogador é desafiado não apenas em combate, mas também moralmente. BioShock se diferencia por oferecer múltiplas abordagens aos confrontos e por inserir o jogador em um universo que parece vivo e misterioso, cheio de histórias escondidas em áudios, diários e detalhes ambientais. Sua crítica ao extremismo ideológico e à utopia individualista faz dele mais do que apenas um jogo de ação — é uma verdadeira obra de arte interativa.
Enredo (Com Spoilers)

A história de BioShock começa quando Jack, o protagonista, sofre um acidente de avião no meio do oceano Atlântico e encontra uma torre que o leva até Rapture — uma cidade submersa construída por Andrew Ryan, um magnata idealista que queria criar uma sociedade livre da interferência do governo e da religião. Inicialmente planejada como um paraíso da liberdade e do mérito individual, Rapture acaba se tornando um pesadelo distópico dominado por loucura, vício e violência.
Logo ao chegar à cidade, Jack é contatado por rádio por um homem chamado Atlas, que o guia sob a promessa de ajudá-lo a escapar e encontrar sua família. No entanto, Rapture está em ruínas: seus habitantes, chamados Splicers, foram corrompidos pelo uso excessivo de ADAM — uma substância genética que concede poderes sobre-humanos, mas causa severos danos mentais. Para sobreviver, Jack precisa usar Plasmids (habilidades especiais alimentadas por ADAM) e enfrentar não apenas os Splicers, mas também os icônicos Big Daddies, enormes protetores das Little Sisters, garotas geneticamente modificadas que coletam ADAM dos mortos.
Conforme a trama se desenrola, segredos começam a vir à tona, incluindo uma das reviravoltas mais marcantes da história dos games: a verdadeira identidade de Jack e sua ligação com Rapture. Descobre-se que o protagonista é, na verdade, um experimento criado para obedecer a comandos específicos, e que boa parte de suas ações no jogo foram manipuladas pela famosa frase “Would you kindly…?”, usada para controlar sua mente sem que ele soubesse.
O final do jogo varia conforme as escolhas do jogador ao longo da campanha, especialmente em relação ao destino das Little Sisters. Essas decisões definem se Jack se torna um herói libertador ou um vilão que sucumbe ao poder e à ganância. Essa moralidade ambígua e as consequências narrativas fazem com que BioShock seja lembrado como uma experiência emocionalmente complexa e impactante.
Personagens Principais
Jack – Protagonista silencioso do jogo, um homem misterioso que descobre gradualmente sua origem e o papel central que ocupa na história de Rapture.
Andrew Ryan – Fundador de Rapture, um idealista que acredita na liberdade individual acima de tudo. Sua filosofia baseada no objetivismo moldou a cidade — e sua ruína.
Atlas / Frank Fontaine – Inicialmente um aliado de Jack, Atlas revela-se mais tarde como o principal antagonista, um mestre da manipulação e ambição que deseja controlar Rapture.
Little Sisters – Meninas geneticamente modificadas que colhem ADAM dos cadáveres. Sua salvação ou colheita define o rumo moral da história.
Big Daddies – Criaturas gigantes em trajes de mergulho, incumbidos de proteger as Little Sisters. Representam um dos maiores desafios de combate no jogo.
Uso do ADAM nas Mecânicas de Combate

O ADAM é a substância central em BioShock, responsável por alterar o DNA dos habitantes de Rapture e conceder habilidades sobre-humanas chamadas Plasmids. Ao coletar ADAM — geralmente através da interação com as Little Sisters — o jogador pode comprar novos Plasmids ou aprimorar os já existentes. Esses poderes variam desde soltar raios elétricos com as mãos até lançar enxames de insetos, explodir inimigos com telecinese ou congelá-los temporariamente. Essa mecânica adiciona uma camada estratégica ao combate, permitindo que o jogador combine habilidades para explorar as fraquezas dos inimigos.
Além dos Plasmids, Jack também pode utilizar armas convencionais como pistolas, espingardas, metralhadoras e chaves inglesas, todas com tipos de munição alternativos que variam de acordo com a situação (como munição perfurante para robôs ou incendiária contra inimigos vulneráveis ao fogo). O verdadeiro diferencial do combate está na sinergia entre Plasmids e armas: por exemplo, o jogador pode eletrocutar inimigos em poças d’água para causar dano em área, ou congelá-los antes de esmagá-los com um tiro. Essa liberdade para experimentar torna cada encontro único.
O uso de ADAM, no entanto, não é gratuito. O jogador precisa de EVE, uma espécie de energia azul que alimenta os Plasmids. Assim como os kits de cura para restaurar a vida, seringas de EVE devem ser constantemente coletadas e gerenciadas. A escassez desses recursos, aliada à força dos inimigos e à tensão do ambiente, cria uma experiência intensa e desafiadora, que exige inteligência, planejamento e adaptação constante para sobreviver em Rapture.
Questões Éticas e Filosóficas que o Jogo Suscita

BioShock levanta discussões profundas sobre liberdade, ética e controle, especialmente por meio da filosofia objetivista de Andrew Ryan, inspirada nas ideias de Ayn Rand. A cidade de Rapture é uma crítica direta ao extremismo do individualismo e à crença de que uma sociedade pode prosperar sem regras, governos ou moral coletiva. O jogo questiona até que ponto a liberdade absoluta leva ao progresso ou à autodestruição, mostrando como a busca por poder e autonomia pode gerar desigualdade, egoísmo e caos.
Outro tema central é o livre-arbítrio, explorado de maneira brilhante com a revelação de que as ações do protagonista eram controladas por comandos subliminares, sugerindo que até mesmo o jogador — supostamente no controle — foi manipulado o tempo todo. Isso levanta reflexões sobre o papel do jogador nos videogames, a ilusão de escolha e a própria natureza da obediência. O impacto emocional e filosófico dessas questões é um dos grandes responsáveis por tornar BioShock uma obra-prima além do entretenimento.
Curiosidades
O jogo quase se passou em uma estação espacial: Durante os estágios iniciais do desenvolvimento, a equipe considerou ambientar BioShock em uma estação orbital infestada por criaturas genéticas, antes de decidir pela icônica cidade subaquática de Rapture, que oferecia uma ambientação mais única e claustrofóbica.
O jogo foi influenciado por obras literárias e filosóficas: Além de Ayn Rand, BioShock faz referências a George Orwell, Aldous Huxley e até Platão, principalmente em sua crítica às utopias e na construção da alegoria de Rapture como um experimento filosófico fracassado.
O Big Daddy era inicialmente um inimigo muito diferente: Nas primeiras versões do jogo, o Big Daddy era um humano em um traje comum de mergulho. Com o tempo, ele foi redesenhado para se tornar o gigante icônico com broca no braço, hoje símbolo da franquia.