Os preços da carne bovina nos Estados Unidos atingiram patamares históricos em julho, o que evidencia ser resultado momentâneo da combinação entre oferta interna cada vez mais restrita e tarifas de importação impostas pelo governo de Donald Trump.
Produtos de grande consumo, como a carne moída e os bifes crus, chegaram a registrar máximas inéditas, custando mais de R$ 76 e R$ 143 por quilo, respectivamente, marcando uma das maiores altas em décadas.
Estoques baixos e produção em queda
O Departamento de Agricultura dos EUA (USDA) aponta que o rebanho bovino do país segue em declínio, com cerca de 94,2 milhões de cabeças, número menor do que os registrados em anos anteriores. A tendência é de que a produção continue caindo, chegando em 2026 ao menor nível desde 2019. Isso ocorre porque a recomposição do gado é lenta, exige tempo para engorda e enfrenta custos elevados de insumos, o que dificulta o aumento da oferta.
Relatórios recentes também indicam redução no número de abates e no peso médio dos animais, fatores que reforçam o quadro de escassez. Com menos carne disponível e uma demanda ainda robusta, os preços seguem firmes.
Para o USDA, esse desequilíbrio deve sustentar o mercado valorizado por pelo menos mais dois anos. Além do impacto no consumo doméstico, o setor de alimentação fora de casa, como restaurantes e redes de fast-food, também sente a pressão de custos mais altos.
Tarifas ao Brasil e efeitos
O cenário ficou ainda mais delicado após a imposição de tarifas de 50% sobre a carne bovina brasileira. O Brasil foi responsável por quase um terço das importações norte-americanas em 2025, e a medida reduziu significativamente o volume comprado do país. O próprio USDA já revisou suas projeções para baixo, apontando que a dependência menor do Brasil, em razão das tarifas, deve comprometer o abastecimento nos próximos anos.
De acordo com o CEO da JBS USA, Wesley Batista Filho, não existe no curto prazo um fornecedor capaz de substituir o peso do Brasil nesse mercado. A Austrália, embora seja um exportador relevante, não tem escala suficiente para preencher essa lacuna.
A consequência imediata no mercado é a disputa por cortes magros de carne, essenciais na produção de hambúrgueres, o que tem levado as redes de alimentação a utilizarem cortes nobres do gado americano, antes destinados a bifes e churrascos. Essa mudança, porém, pode gerar um efeito em cascata, elevando também os preços dos cortes tradicionais, impactando toda uma cadeia de consumo.