Ratanabá: Segredos e curiosidades da possível “cidade perdida” da Amazônia

Seria possível que uma civilização tão avançada tenha existido no coração da maior floresta tropical do mundo?
Lucas Morais, Jean Felipe em 17/set/24, atualizado 6/out/24 às 13h – Compartilhe
Simulação de Ratanabá (1). Imagem: Editada por Eu, Brasileiro.
Simulação de Ratanabá (1). Imagem: Editada por Eu, Brasileiro.

Imagine uma cidade lendária, oculta nas profundezas da vasta e misteriosa Amazônia, repleta de riquezas e segredos antigos. Ratanabá, como é chamada, tem sido alvo de inúmeras lendas e especulações ao longo dos anos.

Poderia uma civilização avançada ter existido no coração da maior floresta tropical do mundo?

A teoria de Ratanabá surgiu de diversas lendas indígenas e relatos históricos sobre uma civilização antiga e avançada que teria habitado a região amazônica. Essas histórias foram transmitidas de geração em geração, alimentando a imaginação de exploradores, historiadores e arqueólogos. Já no século XXI, a teoria ganhou mais notoriedade devido a novas descobertas arqueológicas.

Recentemente, com as redes sociais, a “teoria da conspiração” sobre Ratanabá voltou a viralizar no TikTok, Twitter e Instagram. Publicações chegaram a afirmar até que Ratanabá seria uma cidade imensa, maior que a Grande São Paulo, sendo considerada a “capital do mundo” na época, guardando grandes riquezas, como esculturas de ouro e tecnologias avançadas dos nossos ancestrais.

Algumas vertentes vão ainda mais longe, sugerindo que a descoberta dessa cidade poderia revelar o verdadeiro motivo pelo qual muitos homens poderosos têm tanto interesse na Amazônia.

Documentário com curiosidades sobre a lenda de uma cidade perdida na Amazônia. Canal: Canal History Brasil/Youtube.

Cidade existiu há 450 milhões de anos?

Os adeptos das teorias sobre a cidade acreditam que ela existiu há 450 milhões de anos e hoje está enterrada entre três pirâmides nas regiões do Amazonas, Pará e Mato Grosso. Ratanabá teria sido um grande império, fundado pela civilização Muril, considerada a primeira a habitar a Terra há cerca de 600 milhões de anos.

Algumas lendas dizem também que existe uma rede de túneis subterrâneos que se estende por toda a América do Sul e se conecta a Ratanabá. Uma das entradas desses túneis estaria escondida no Forte Príncipe da Beira, em Costa Marques, Rondônia. Acredita-se que esses túneis conectam não só pontos da América do Sul, mas também o mundo inteiro, sendo usados por grandes líderes mundiais para se encontrarem e discutirem sobre riquezas ocultas.

Lista resumida das “curiosidades” mais publicadas sobre Ratanabá

Algumas mais utópicas, outras nem tanto. As lendas citadas podem carecer de várias fontes, mas foram compartilhadas amplamente de diversas formas.

  • Origem misteriosa: A lenda de Ratanabá fala de uma cidade perdida na Amazônia, supostamente datada por muitos por mais de 450 milhões de anos, sendo muitas vezes apontada como o berço da civilização humana ou a capital do mundo antigo.
  • Cidade tecnologicamente avançada? Ratanabá seria uma cidade avançada tecnologicamente, com conhecimentos em engenharia, astronomia e outras ciências que poderiam superar a atualidade, hoje sendo coberta por florestas densas.
  • Acreditada como a Atlântida da Amazônia: Alguns entusiastas comparam Ratanabá à famosa cidade perdida de Atlântida, sugerindo que ambas compartilhariam características de civilizações avançadas e misteriosas.
  • Influência extraterrestre: Há teorias de que os habitantes de Ratanabá tinham contato com seres extraterrestres ou até mesmo eram descendentes deles, algo similar a outras lendas sobre a criação das Pirâmides do Egito.
  • Guardiões ocultos: Segundo algumas lendas, Ratanabá seria protegida por forças místicas ou sobrenaturais que impedem que pessoas comuns a encontrem.
  • Energia poderosa: É dito que Ratanabá possui uma “fonte de energia poderosa”, ainda não descoberta por nossa sociedade.
  • Possíveis ruínas encontradas: Algumas pesquisas apontam para a existência de estruturas antigas na Amazônia, que alimentam a especulação de que seriam partes de Ratanabá, embora não haja comprovação científica.
  • Conspirações governamentais: A lenda atrai teorias da conspiração de que governos e corporações estariam ocultando informações sobre Ratanabá para o controle de poder, por exemplo.
  • Herança cultural: Ratanabá é frequentemente associada a lendas indígenas, sugerindo que as tribos nativas da Amazônia conhecem a existência da cidade e guardam segredos sobre seu paradeiro e poder.
  • Pirâmides escondidas: Há especulações de que Ratanabá abrigaria grandes pirâmides ocultas sob a densa floresta amazônica, semelhantes às encontradas no Egito, servindo como centros de poder e espiritualidade.
  • Geometria sagrada: Alguns sugerem que a cidade foi construída usando princípios de geometria sagrada, alinhando-se com constelações e fenômenos astrológicos para canalizar energia cósmica.
  • Subterrâneos profundos: Conforme citado, Ratanabá teria uma vasta rede de túneis subterrâneos que se estenderiam por toda a Amazônia, conectando-a a outras regiões e civilizações antigas ao redor do mundo.
  • Símbolo de renascimento: Para alguns, Ratanabá representa mais do que uma cidade perdida — seria o símbolo de um renascimento espiritual e de uma nova era de conhecimento para a humanidade, caso seus segredos fossem desvendados.
  • Tecnologia antigravitacional? De acordo com algumas teorias, os habitantes de Ratanabá possuíam tecnologia capaz de desafiar a gravidade, permitindo que movimentassem grandes estruturas, como pirâmides, com facilidade.
  • Mapeamento secreto: Alguns teóricos afirmam que o governo brasileiro e outras instituições já mapearam partes da cidade usando tecnologia avançada, como o LIDAR, mas mantêm esses dados confidenciais.
  • Riquezas escondidas: A lenda também fala sobre tesouros incalculáveis escondidos em Ratanabá, incluindo ouro, pedras preciosas e artefatos com grande valor histórico e espiritual.
  • Sobrevivência pós-cataclismo: Segundo algumas narrativas, a cidade teria sobrevivido a grandes cataclismos globais, como inundações e erupções vulcânicas, graças ao conhecimento avançado e sua tecnologia, preservando-a nas profundezas da floresta amazônica.
Entrevista sobre Ratanabá no programa Cidade Alerta sobre pesquisas relacionadas que levaram em torno de 30 anos, até então. Canal: Dakila Pesquisas.

Como a civilização acabou?

Apesar de alguns teorizarem que parte dela ainda existe e é protegida, a maioria das lendas afirma que a cidade perdida de Ratanabá não abriga mais nenhuma civilização, restando apenas pequenos vestígios arqueológicos de uma grande civilização que já existiu.

Veja alguns dos motivos mais comentados sobre o “fim de Ratanabá”:

  • Cataclismo natural: Sua população poderia ter sido dizimada por um grande desastre natural, como uma inundação ou terremoto. Alterações severas no clima, como secas ou mudanças no curso dos rios também podem ter tornado a região inóspita e coberta pela floresta.
  • Desaparecimento intencional: Os habitantes teriam usado de tecnologia avançada ou algo místico para esconder a cidade e protegê-la de invasores.
  • Declínio da civilização: A cidade teria sido abandonada devido à falta de recursos, conflitos ou desastres ambientais, levando ao seu esquecimento.
  • Invasão externa: A cidade pode ter sido destruída por invasores ou uma civilização rival que cobiçava suas riquezas e tecnologia, levando à sua queda e o desaparecimento.
  • Epidemia: Uma doença desconhecida pode ter dizimado a população, levando ao abandono da cidade e ao eventual desaparecimento de sua civilização.
  • Colapso social ou intervenção alienígena: Desentendimentos internos, conflitos políticos ou rebeliões podem ter causado um colapso da estrutura social, resultando na queda da cidade. Uma intervenção alienígena também poderia fazer parte de uma decisão maior, para seus habitantes.

Apesar das teorias, especialistas desmentem a hipótese da existência de Ratanabá

Muitos pesquisadores e arqueólogos afirmam que Ratanabá não existe por vários motivos. Primeiramente, há 350 milhões de anos, nem mesmo os dinossauros existiam, então é improvável que uma civilização tenha existido há 450 milhões de anos. Além disso, o Forte Príncipe da Beira, mencionado como uma entrada para os túneis, foi na verdade utilizado nas disputas de fronteira entre Espanha e Portugal, no século XVIII.

Outra razão para a rejeição é a impossibilidade prática da existência de uma rede de túneis subterrâneos que conectaria toda a América do Sul e o mundo. Construir e manter uma estrutura tão extensa e complexa seria extremamente difícil, especialmente sem deixar rastros detectáveis. Além disso, a ideia de que grandes líderes mundiais utilizariam esses túneis para discutir riquezas ocultas na Amazônia é vista como altamente improvável e carece de qualquer tipo de comprovação factual.

Simulação de Ratanabá. Imagem: Editada por Eu, Brasileiro.
Simulação de Ratanabá (2). Imagem: Editada por Eu, Brasileiro.

Atualmente, a Grande São Paulo abriga cerca de 22 milhões de habitantes. Especialistas estimam que, antes da chegada dos europeus nas Américas, havia cerca de 10 milhões de indígenas em toda a Amazônia. Portanto, é improvável que a cidade de Ratanabá tenha atingido um tamanho semelhante ou maior do que a Grande São Paulo.

Professor da USP diz que teoria viralizou por interesses econômicos

O arqueólogo Eduardo Goés Neves, professor do Centro de Estudos Ameríndios da Universidade de São Paulo (USP), concedeu uma entrevista ao G1, onde contou o seu ponto de vista acerca do porquê essa teoria da cidade perdida de Ratanabá acabou viralizando mesmo depois de tantos anos.

Neves relatou que não conhecia a história de Ratanabá até 2022. Quando começou a receber perguntas sobre o assunto, ele pesquisou e consultou colegas de trabalho, mas ninguém conhecia a história. Apesar de haver perfis em redes sociais e livros sobre a suposta “civilização perdida” nas últimas décadas, o tema só recentemente despertou interesse popular, sendo amplamente discutido há pouco mais de dois anos.

Segundo Neves, esse fenômeno pode ser atribuído a diversos motivos. “Vejo como uma combinação da credulidade das pessoas, que desejam acreditar nesse tipo de narrativa, com os interesses econômicos ligados à exploração da Amazônia”, sugere o especialista, lembrando de lendas semelhantes, como a cidade de Eldorado, que atraiu exploradores por supostamente ser feita de ouro.

Neves diz que essas histórias mirabolantes também podem servir como uma cortina de fumaça para temas de fato relevantes na Amazônia, como queimadas, desmatamento e práticas ilegais que há tanto tempo destroem um dos maiores patrimônios naturais da humanidade.

E você, o que acha dessa lenda? Acha possível que tenha existido uma cidade tão imponente e avançada tecnologicamente há tanto tempo?

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