Com apenas 372.520 habitantes de acordo com o censo de 2021, a Islândia hoje é considerada por muitos como um expoente de liderança progressista onde alcançou, por exemplo, o título de país com a menor desigualdade salarial entre gêneros no mundo. Mesmo com uma greve recente das mulheres do país por mais igualdade – que teve adesão da primeira-ministra – a Islândia segue se mantendo o maior exemplo de país igualitário do mundo no que se refere a questão de gênero.
Para os habitantes da Islândia, certamente é motivo de se orgulhar: Há 14 anos, a Islândia lidera o ranking que mede o nível de igualdade entre homens e mulheres, de acordo com o Índice Global de Diferenças de Gênero do Fórum Econômico Mundial. De acordo com dados de 2023, o país nórdico conseguiu fechar sua diferença de gênero em 91,2%.
Qual é o segredo do sucesso e as lições aprendidas durante todo esse processo na Islândia? E, principalmente, quais foram as políticas adotadas que alcançaram tal eficiência contra a desigualdade de gênero?
A crise de 2008 e a posterior conquista da igualdade de gênero
Há alguns anos atrás, a Islândia sofreu bastante com a crise financeira global de 2008. Esta crise teve um impacto profundamente negativo na economia do país, provocando uma grande desvalorização da moeda, crises bancárias e uma recessão econômica severa. Naquele momento, o país teve que adotar medidas de austeridade e buscar ajuda financeira internacional para superar os desafios econômicos.
No meio do caos causado pela crise, surgiu uma oportunidade para avançar na luta pela igualdade de gênero. Um dos debates predominantes era de que “os homens haviam conduzido a nação e suas empresas de maneira desastrosa”. Surgiu, então, a chance para que as mulheres assumissem posições de liderança mais proeminentes. Foram criadas novas políticas para promover a participação feminina em cargos de liderança, o que resultou em progressos significativos na busca pela igualdade.
O sucesso da Islândia, contudo, deve-se a uma combinação de fatores específicos do país, como o movimento de mulheres, que já existia em décadas de história, e a presença comum das mulheres no mercado de trabalho, junto com a vontade política de aprovar leis que promovessem essa igualdade.
Governantes da Islândia reconheceram a desigualdade de gênero como uma questão enraizada na sociedade e, por isso, adotou uma abordagem sistemática para enfrentá-la, usando o aparato do estado como instrumento de mudança. Isso se mostrou de grande eficiência no longo prazo e, até hoje, é possível tirar importantes lições desse processo.
Com uma grande movimentação política com leis que facilitavam erradicar as disparidades de gênero, a Islândia então se tornou o primeiro país do mundo a implementar uma lei que exige a igualdade de salários entre homens e mulheres. A legislação entrou em vigor ainda em 1° de janeiro de 2018, o que se mostrou uma tática positiva em diversas frentes para o mercado até então.
Quais lições outros países podem levar da Islândia com isso?
Um país com pouco mais de 370 mil habitantes pode ter muito a ensinar às nações do “mundo livre”. Políticas de gênero a depender do país ou são pouco debatidas, ou sofrem uma resistência muito grande por parte de oposições no âmbito político. No entanto, é possível aprender um pouco com o processo islandês de lidar com esses problemas.
A importância de uma representação política equitativa
A Islândia conta com uma das mais elevadas representações femininas no parlamento e isso evidencia o impacto positivo da liderança das mulheres na promoção da igualdade de gênero. A presença feminina em posições de poder político não apenas inspira as gerações futuras de mulheres, mas também molda políticas que podem beneficiar toda uma sociedade.
Adoção da licença parental equitativa para homens
A implementação de licenças parentais independentes para ambos os pais marca um avanço significativo na jornada rumo à igualdade de gênero. Ao encorajar a participação igualitária dos homens na criação dos filhos desde os primeiros momentos, a Islândia está desafiando estereótipos e promovendo uma distribuição mais equitativa das responsabilidades familiares.
Lei da igualdade salarial
Como dissemos anteriormente, a lei de igualdade salarial é uma das mais importantes no país, sobretudo quando tratamos desse assunto. A lei exige que tanto empresas como instituições com 25 ou mais funcionários obtenham um “certificado de igualdade salarial” demonstrando que pagam o mesmo aos seus funcionários em funções semelhantes.
A Islândia não é o único país com uma lei de igualdade salarial. Entretanto, diferente de outros, no país, o peso de provar a igualdade ou desigualdade recai sobre a empresa e não sobre o empregado. Isso significa que é a empresa que deve comprovar que paga seus funcionários de forma justa e equitativa.
Forte subsídios a creches
O investimento em creches e educação infantil na Islândia não só traz benefícios às crianças, mas também possibilita que mais mulheres permaneçam no mercado de trabalho após o período de licença parental. Quando as crianças atingem um ano de idade e a licença parental de ambos os pais chega ao fim, de acordo com dados da OCDE, mais da metade delas já estão matriculadas em creches. Esse número aumenta para 80% quando as crianças completam dois anos.
Isso permite que mães e pais possam trabalhar em horário comercial sem maiores problemas. Em uma sociedade que, muitas vezes, acaba “sacrificando” o trabalho das mulheres fora de casa, minimizar a penalização associada à maternidade, é ajudar na construção de uma sociedade na qual homens e mulheres desfrutam de igualdade de oportunidades para atingir seu máximo potencial.