Os planos de sócio torcedores têm se tornado uma peça fundamental no cenário do futebol brasileiro, não apenas como uma fonte de receita para os clubes, mas também como um meio de engajar os torcedores e tentar aumentar o público nos estádios. Muitos clubes têm como uma parte importante da sua receita a bilheteria dos jogos, sobretudo os jogos com maior apelo, como as decisões de campeonatos ou clássicos com rivais locais.
Dessa forma, a maior parte dos planos voltados aos sócios de times brasileiros inclui benefícios na hora de comprar ingressos para jogos, seja através de descontos ou prioridades em adquirir os tickets. Mas isso realmente causa um impacto maior na hora de lotar as arenas? Será que os clubes com maior número de sócios torcedores são os que possuem maior média de público?
Quais os clubes com maiores números de associados no Brasil?
Ser sócio de um clube no Brasil significa, na maioria dos casos, estabelecer uma relação mais próxima e participativa com seu time do coração. Ao se tornar sócio, o torcedor adquire uma espécie de vínculo oficial com a agremiação, geralmente pagando uma mensalidade ou anuidade. Em contrapartida, ele pode desfrutar de uma série de benefícios e vantagens exclusivas, como acesso preferencial a ingressos, descontos em produtos licenciados, participação em eventos especiais, entre outros.
No Brasil, temos inúmeros times considerados grandes, que possuem grande torcida, bem como uma representatividade significativa em vários locais do país. Os 14 clubes da série A do Campeonato Brasileiro de futebol que mais possuem sócios são os seguintes:
1. Palmeiras – 176.521
2. Inter – 140.000
3. Grêmio – 112.075
4. Atlético-MG – 77.242
5. Flamengo – 77.000
6. Bahia – 65.000
7. Fluminense – 61.592
8. Botafogo – 56.419
9. São Paulo – 55.058
10. Vasco – 45.000
11. Corinthians – 43.000
12. Cruzeiro – 42.767
13. Santos – 40.773
14. Athletico-PR – 40.000
Vale ressaltar que ter muitos sócios, não significa ter a maior torcida em números absolutos. No entanto, pode significar que o clube tenha um perfil de torcedor mais engajado, com uma participação maior no dia a dia do time. Mas qual será o impacto real disso na renda da bilheteria dos times de futebol no Brasil?
Ter mais sócios significa ter mais torcedores nos estádios?
Tendo como base um estudo divulgado pela consultoria Convocados e divulgado pela revista Exame sobre o Brasileirão, que utilizou a metodologia de somar todas as referências aos planos de sócio torcedor nos borderôs disponibilizados no site da CBF, podemos concluir algumas coisas:

Os números totais revelam que nas primeiras rodadas de jogos em campeonato, aproximadamente 53% do público pagante era composto por sócios-torcedores, enquanto 47% das receitas foram geradas pelas bilheterias. Esses dados indicam uma divisão bastante equilibrada entre as receitas provenientes dos ingressos adquiridos nas bilheterias (seja de forma presencial ou online) e daqueles dos sócios-torcedores presentes nos jogos.
Com base nesse mesmo estudo, é possível definir 4 grandes grupos de clubes de acordo com a sua relação entre número de associados e bilheteria.
Times que são altamente dependentes dos sócios torcedores: Esse conjunto é formado por Corinthians, Atlético Mineiro, Coritiba e Athletico. O destaque dentre esses é o Coritiba, onde 91% do seu público pagante é composto por sócios-torcedores, seguido pelo seu rival Athletico, com 79%. Atlético Mineiro e Corinthians também apresentam uma alta dependência dos sócios-torcedores, ambos com 75%.
O Coritiba teve a décima quinta média de público recentemente com 21.466 torcedores, possuindo cerca de 35.000 sócios. O time com maior média de bilheteria entre esses foi o Corinthians, que registrou 38.433 torcedores por jogo.
Times que são mais dependentes dos sócios: Fortaleza, Bahia, Fluminense, Vasco, Cruzeiro, Internacional e Grêmio compõem o grupo em que pelo menos metade do público pagante é formado por sócios-torcedores. Dentro dessa categoria, Bahia (64%), Fluminense (61%), Fortaleza (59%), Vasco e Cruzeiro (58%) destacam-se como os clubes mais dependentes dos sócios-torcedores. Enquanto isso, Internacional (56%) e Grêmio (53%) apresentam uma dependência ligeiramente menor, mas ainda significativa.
Times que são moderadamente dependentes dos sócios: Flamengo, Palmeiras e Botafogo compõem esse grupo. É um fato notável que dois dos quatro clubes com as maiores médias de público pagante, apresentem uma proporção de 45% de sócios-torcedores e 55% de ingressos provenientes de outras fontes. Esse padrão sugere que, para esses dois clubes, os resultados em campo podem estar atraindo um público mais amplo para os estádios, que não está necessariamente ligado à base de sócios.
O caso do Maracanã é compreensível devido à sua grande capacidade, o que naturalmente leva a uma maior diversificação de público. Já o Palmeiras, que tem sua arena administrada pela W Torre, além dos 45% de sócios-torcedores, conta com aproximadamente 23% de torcedores que adquirem planos da W Torre, correspondendo a assinaturas anuais de cadeiras. Logo, para o Palmeiras, cerca de 32% dos ingressos vêm de outras origens, enquanto 68% são distribuídos entre sócios-torcedores e assinantes das cadeiras da W Torre.
Times que são pouco dependentes dos sócios: Esse grupo é formado por São Paulo, América Mineiro, Red Bull Bragantino, Cuiabá, Santos e Goiás. O São Paulo teve a segunda maior média de público do campeonato de 2023, porém apenas 17% desse público eram formados por sócios-torcedores. Assim como o Maracanã, o Morumbi é um estádio de grande capacidade, mas, em contraste com o Flamengo, a quantidade de sócios-torcedores é inferior à metade da que foi apresentada pelo rubro-negro carioca. Isso sugere que, para o torcedor são-paulino, a associação como sócio torcedor pode não ser tão valorizada quanto em outros clubes, o que não significa necessariamente algo ruim, mas sim uma característica da torcida.
Existe, de fato, um grande impacto no número de sócios torcedores no público dos estádios?
Existe sim um impacto, mas ele é totalmente dependente das condições em que cada clube passa, ou seja, é necessário entender fatores como o comportamento do torcedor, desempenho do time, preço do ticket médio e até mesmo as condições dos estádios para chegar a uma conclusão mais assertiva. Em casos como o do São Paulo, por exemplo, mesmo sendo o nono time em número de sócios, a equipe conseguiu ser a segunda maior em média de público recentemente. Isso tem muito mais a ver com fatores conjunturais ligados ao time e sua torcida do que em números absolutos, como no caso da quantidade de associados.
O estudo mostra que, ao fazer a divisão dos times em 4 grandes grupos, podemos analisar melhor a situação de cada equipe. Entre as conclusões que podemos tirar com isso é que, apenas em alguns casos, mais precisamente 11 deles (Corinthians, Atlético Mineiro, Coritiba, Athletico, Fortaleza, Bahia, Fluminense, Vasco, Cruzeiro, Internacional e Grêmio), podemos ver um impacto muito significativo entre o número de sócios torcedores e a lotação dos estádios. Nos demais casos, há uma relação menos forte.