Nos meandros da indústria dos videogames, muitas parcerias são forjadas na esperança de criar experiências memoráveis para os jogadores. No entanto, nem todas essas colaborações são bem-sucedidas, como ficou evidente no caso envolvendo a SEGA e a Gearbox Software, em 2013.
Desde problemas nos bastidores, divergências criativas e marketing excessivamente agressivo que ficou marcado para alguns como “enganoso”, tudo isso culminou em um episódio extremamente infame, poluindo a imagem de ambas as empresas envolvidas. “Aliens: Colonial Marines” foi um dos lançamentos mais polêmicos do mercado de games internacional e nos traz diversas lições valiosas sobre como um desenvolvimento pode ser conturbado sem os devidos cuidados.
Entenda as polêmicas e o processo envolvendo a SEGA, Gearbox e os consumidores que esperavam mais do projeto.
O início do conflito: Aliens: Colonial Marines
Tudo começou com o lançamento de “Aliens: Colonial Marines” em 2013, um jogo desenvolvido pela Gearbox Software e publicado pela SEGA. O jogo havia sido promovido com trailers e demonstrações que mostravam gráficos impressionantes e uma jogabilidade totalmente inovadora. No entanto, quando o jogo finalmente chegou às mãos dos jogadores, ficou claro que ele não correspondia às expectativas.
Desde seu lançamento, o jogo foi uma fonte constante de controvérsias, tanto para as empresas envolvidas quanto para os jogadores que o adquiriram, enfrentando uma série de bugs e defeitos graves, modo história aquém do esperado, resultando em uma qualidade muito inferior àquela apresentada na demo exibida na E3 de 2011. Essa recepção negativa não apenas prejudicou a reputação do jogo, mas também teve um impacto significativo nas vendas e na imagem tanto da Gearbox quanto da SEGA.
Os consumidores, jornalistas e público em geral se sentiram (com razão) enganadas pela Gearbox, pois havia rigorosamente nada do que foi prometido dois anos antes na E3. Os fãs não acharam o jogo horrível, de acordo com opiniões da época e sua jogabilidade funciona até certo ponto, mas segundo a crítica da época, foi considerado mal-acabado e genérico.
Uma figura em especial foi bastante criticada tanto pela SEGA (posteriormente), quanto pelos fãs, trata-se de Randy Pitchford, o então CEO da Gearbox na época do lançamento de Aliens. Randy chegou a dar declarações duvidosas e a gestão problemática do mesmo não se limitou somente a esse game. Nos anos seguintes, Randy continuou direcionando sua equipe para projetos mais significativos, como Borderlands 2, mas também para um outro jogo que acabou sendo um grande fracasso: Duke Nukem Forever. Não se pode afirmar que os erros de Aliens: Colonial Marines são 100% culpa dele, mas a maneira que ele se comportava nas entrevistas tanto antes, quanto depois das polêmicas do jogo, causou um mal-estar para a situação.
As alegações e o processo legal
Em 2013, as duas empresas foram processadas por fãs que se sentiram lesados ao ter acesso ao jogo, que não tinham o que fora prometido dois anos antes na E3. A ação coletiva movida pelos consumidores fez com que a SEGA pagasse cerca de US$ 1,25 milhões aos fãs que compraram o jogo na pré-venda, sob a acusação de propaganda enganosa. O processo continuou após o pagamento, uma vez que o acordo foi aceito somente para ressarcir os consumidores que compraram o jogo na pré-venda, mas eles não eram os únicos que estavam movendo a ação contra as empresas. Apesar de ter concordado em pagar o valor, a SEGA declarou que foi enganada pela Gearbox durante várias etapas do desenvolvimento do jogo.
Dentre as grandes polêmicas envolvidas sobre o lançamento do jogo, estiveram em alta na internet os seguintes tópicos sobre o caso:
Vale ressaltar que muito do que foi dito pela imprensa e citado abaixo, pode ou não convergir com a realidade e os fatos da conclusão ou não conclusão nos processos judiciais envolvidos.
Terceirização dos Trabalhos: Grande parte do desenvolvimento patrocinado pela SEGA foi terceirizado para estúdios menores, como TimeGate Studios, o que resultou em falta de coesão e inconsistências no produto final.
Desvio de Recursos: Alegações de que a Gearbox desviou recursos financeiros e de pessoal para outros projetos, como “Borderlands 2”, deixando “Aliens: Colonial Marines” em segundo plano.
Falsas Promessas: As demos apresentadas na E3 foram consideradas enganosas, pois mostravam um jogo muito diferente do que foi entregue aos consumidores.
Problemas Internos na Gearbox: Havia uma gestão interna conturbada, com mudanças frequentes na equipe de desenvolvimento e falta de liderança clara.
Confusão: Randy Pitchford foi acusado de fazer declarações que divergiam sobre o estado real do jogo e seu desenvolvimento em várias entrevistas.
Lançamento Precipitado: O jogo foi lançado de maneira apressada, sem tempo suficiente para corrigir bugs e polir o produto final, resultando em uma experiência de jogo frustrante para os jogadores.
A SEGA, por sua vez, foi acusada pela Gearbox de não exercer supervisão adequada sobre o progresso do projeto, permitindo que problemas graves persistissem até o lançamento.
Essa situação levou a SEGA a pedir judicialmente à Gearbox uma compensação financeira pelos danos causados pela má qualidade de “Aliens: Colonial Marines”. A partir daí, o processo foi marcado por uma série de disputas legais e alegações de ambas as partes, lançando uma sombra sobre a colaboração anteriormente promissora entre as duas empresas.
Encerramento do processo e acordo
Após muitas acusações e alegações na imprensa, o litígio envolvendo Gearbox e SEGA acabou se encerrando em 2015. O juiz determinou que não era possível dizer, com clareza, quem foi enganado e quem não foi. Com isso, houve um acordo entre as partes e a Gearbox arcou com todos os custos do processo, que terminou oficialmente em maio de 2015.
Embora o desfecho do processo não tenha sido amplamente detalhado, é provável que tenha envolvido alguma compensação financeira e possivelmente outros termos e condições que resolveram as disputas entre as partes. No entanto, o legado de “Aliens: Colonial Marines” e o processo subsequente servem como um lembrete para as empresas da importância da transparência, comunicação eficaz e gestão adequada de projetos na indústria dos videogames.
Esse foi, sem dúvida, um dos episódios mais caóticos da história dos desenvolvimentos de jogos e, apesar de ter sido traumático para alguns, serve como um lembrete da importância da responsabilidade, profissionalismo e na colaboração clara na criação de experiências de jogo entre empresas para os jogadores do mundo todo. Ser mais transparente e assertivo deve evitar grandes dores de cabeça.