Chamar o crescimento da Twitch durante a pandemia de um simples benefício seria minimizar a situação. Segundo um relatório de 2021, o número de horas assistidas no site aumentou 45% de 2020 para 2021. Naquele momento, a plataforma parecia simplesmente imbatível, destinada a figurar definitivamente como uma das maiores no ramo do entretenimento no mundo. No entanto, a situação mudou bastante nos anos que se seguiram.
A empresa passou por várias mudanças de CEO, viu a saída de muitos de seus principais criadores, encerrou suas atividades na Coreia do Sul e enfrentou duas rodadas de demissões, resultando no corte de mais de um terço de sua equipe.
Mas o que de fato está causando esse “caos” gradativo em uma das maiores plataformas de entretenimento do mundo?
Boicote de streamers, queda de audiência e demissões em massa
Para entender onde as coisas deram errado, precisamos rever como era o cenário da internet em 2020 e 2021. A pandemia da Covid-19 tornou-se uma questão global, levando milhões de pessoas ao confinamento. Com mais tempo em casa, as pessoas passaram a consumir mais conteúdos via internet. Dessa maneira a produção voltada para games logo se expandiu.
A Twitch, comprada anteriormente pela Amazon há pouco mais de 6 anos, se levantou como uma das plataformas mais acompanhadas no mundo. Essa ascensão meteórica da Twitch fez muito bem para vários produtores de conteúdo e, ao menos nesse momento, o número de canais e transmissões aumentou fortemente.
Porém, quando houve a reabertura da economia global, ocorreu uma redução no número de pessoas que acessam ou se inscrevem na plataforma. Esse número começou a levar a empresa a tomar algumas decisões que contribuíram bastante com sua queda. A audiência começou a despencar e isso forçou políticas de cortes de gastos. Em 2023, a empresa tomou a decisão de despedir 35% da sua força de trabalho, o que se traduz em cerca de 500 funcionários.
Como se não bastasse, a Twitch sofreu um severo boicote de vários produtores de conteúdo. Dentro de um cenário de queda de audiência, esse fato fez com que ainda mais pessoas abandonassem de vez a plataforma e passassem a acompanhar outros sites, como Youtube e TikTok, que tiveram crescimento considerável entre 2022 e 2024, após a pandemia.
Esse boicote, que ganhou a hashtag #ADayOffTwitch, ocorreu devido a várias questões, incluindo preocupações com políticas de moderação de conteúdo, transparência nas práticas de monetização e condições de trabalho para os criadores de conteúdo que, por exemplo, se queixavam do exagero de horas que eram obrigados a transmitir na plataforma para receber o que achavam ser considerável, da empresa.
Havia, também, a pauta da erradicação das chamadas “Raids de ódio”, que é o ato de criadores de conteúdo extremistas transferirem seus espectadores para transmissões de outras pessoas com o intuito de provocá-las ou ofendê-las. Esses problemas levaram alguns streamers influentes a suspender temporariamente suas atividades na plataforma como forma de protesto.
Os usuários também passaram a reclamar da experiência que a Twitch proporcionava. A quantidade excessiva de anúncios para os visitantes era o principal tema das reclamações. Além disso, alguns usuários também relataram dificuldade em acessar as lives através do app e do site em vários momentos entre 2021 e 2023.
O anúncio de mudanças
Recentemente, foi lançado um comunicado pela Twitch sobre mudanças significativas que prometem aumentar o ganho dos streamers. A expansão do programa “Partner Plus” é um dos pontos centrais dessas mudanças. O programa, criado em 2023, tem como objetivo dar mais solidez para a carreira dos produtores de conteúdo na plataforma. Tal expansão busca alcançar um público mais amplo, oferecendo aos produtores de conteúdo benefícios, como a divisão de lucros secundários de 70/30 (70% para o streamer e 30% para a plataforma).
Outro anúncio visa especificamente os streamers que geram receita superior a US$ 100 mil (aproximadamente R$ 500 mil). Atualmente, esses criadores recebem apenas 50% dessa receita na plataforma. Agora, essa porcentagem aumentará para 70%, seguindo o modelo 70/30 já mencionado, o que resultará em um significativo aumento na receita para esses produtores de conteúdo.
Apesar das mudanças programadas, as projeções de receita ainda não são otimistas. Essas projeções desfavoráveis são atribuídas à preocupação com a grande queda de audiência nos últimos tempos e aos altos custos operacionais associados à manutenção de uma plataforma que suporta 1,8 bilhão de horas de conteúdo de vídeo ao vivo por mês.
A Twitch tem buscado maneiras de rentabilizar sua audiência, ajustando os modelos de monetização de conteúdo e pagamentos aos criadores. No entanto, a crescente concorrência de novas plataformas, como a Kick, que está oferecendo contratos milionários para os principais streamers da Twitch, também tem impactado na estratégia.
Em momentos decisivos sobre o futuro da plataforma, espera-se que a Amazon consiga reverter a situação, trazendo estratégias para a Twitch que ajudem a elevar a confiança de usuários em seus serviços novamente, reforçando todo o potencial que a marca tem. Não só isso, é preciso inovar e acompanhar o mercado conforme novas necessidades surgem.