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A hegemonia de Max Verstappen está deixando a Fórmula 1 chata?

O domínio do piloto holandês, Max Verstappen, está deixando a categoria do automobilismo mais chata e monótona?
Lucas Morais em 30/abr/24, atualizado 30/abr/24 às 16h – Compartilhe
Max Verstappen. Acervo do Wikimedia Commons.
Max Verstappen. Acervo do Wikimedia Commons.

A temporada recente da Fórmula 1 tem sido marcada por um fato inegável: a hegemonia categórica de Max Verstappen: Com sua destemida habilidade nas pistas, o jovem piloto holandês tomou o trono de Lewis Hamilton em 2021 e, desde então, têm se mostrado cada vez mais imbatível, algo que tem incomodado um pouco fãs de longa data de Fórmula 1.

Isso porque Verstappen passou a exercer um amplo domínio frente aos outros pilotos e isso faz com que a temporada de não seja nada mais do que uma disputa pelo segundo lugar. Nesse contexto, surge um debate entre os fãs e observadores do esporte: será que essa supremacia está tornando a Fórmula 1 monótona e previsível? Vamos abordar essa questão, examinando a atual dinâmica da competição e comparando-a com cenários anteriores.

A Fórmula 1 está mesmo chata?

Aqui está um clichê exaustivamente usado e frequentemente repetido: a Fórmula 1 está chata. Essa é uma reclamação que todos já ouvimos em algum momento. Fulano vence de qualquer maneira, aquele carro é invencível, não há competição pela vitória, e pronto. A F1 é rotulada instantaneamente como sem graça por aqueles que repetem essas afirmações.

Mas isso não é exatamente uma verdade. Quando comparamos a Fórmula 1 atual com temporadas de outros anos, vemos que, na verdade, o grid nunca esteve tão equilibrado. Óbvio que Verstappen se sobressai, mas se tirarmos ele da equação, temos um dos melhores grids da história. Com pilotos excepcionais, os tempos de volta também são os mais apertados de todos os tempos na F1.

Se pegarmos, por exemplo, a corrida na Arábia Saudita durante a atual temporada, a diferença entre Verstappen (que venceu a corrida) e o quinto colocado, Fernando Alonso, chegamos em um tempo de 35.759s, ou seja, pouco mais que 35 segundos de diferença entre os dois carros. Usando essa mesma métrica, caso formos avaliar a “época de ouro” da F1, como alguns dizem, que contava com pilotos como Ayrton Senna, Alain Prost, Nigel Mansell, entre outros, veremos diferenças de tempo muito mais discrepantes do que essa.

Só para ter uma ideia disso, na lendária corrida de Donington Park, em 1993, quando Senna fez, para muitos, uma das melhores voltas da história do esporte e venceu a corrida, a diferença de tempo entre a McLaren do brasileiro e o quinto colocado da corrida, Riccardo Patrese, foi de duas voltas, ou seja, pelo menos 2 minutos e meio. Um valor consideravelmente mais alto do que o encontrado no GP da Arábia Saudita em 2024. Antes que você, ou qualquer outra pessoa diga que foram casos isolados, sabia que não são. Basta consultar e comparar a diferença de tempo entre a “era de ouro da F1” e o momento atual para chegar às mesmas conclusões.

A hegemonia de Max Verstappen está deixando a Fórmula 1 chata?
Verstappen correndo na Red Bull em 2019. Acervo do Wikimedia Commons.

A questão parece ser muito mais de memória afetiva do que qualquer outra coisa. Mas não me entenda mal, não existe nada errado em ter memória afetiva no esporte, considero isso até algo saudável (na maioria dos casos). No entanto, esse tipo de sentimento pode estar poluindo a análise de quem insiste em dizer que a F1 está chata, mesmo não estando muito diferente de outras temporadas.

Quando Senna, Piquet, Barrichello ou Massa estavam brigando pelos primeiros lugares, não havia a ideia de que o esporte estava ficando monótono, pelo contrário, tudo parecia estar no auge ali.

No entanto, hoje infelizmente não temos um piloto brasileiro competindo no grid da Fórmula 1, e em tese, não há ninguém para torcer, exceto os pilotos estrangeiros. Para alguns fãs brasileiros, isso faz com que a graça das corridas não exista e tudo se torne mais tedioso. Quando há a hegemonia de algum estrangeiro, o esporte perde o encanto e tudo parece mais chato. Mas isso é uma perspectiva pessoal e enviesada.

As hegemonias são normais na Fórmula 1

A história da Fórmula 1 está repleta de períodos de domínio por parte de equipes e pilotos que estabeleceram hegemonias incontestáveis. Desde os lendários anos de Juan Manuel Fangio até as eras de Alain Prost, Ayrton Senna, Michael Schumacher, Lewis Hamilton e mais recentemente Max Verstappen, a categoria máxima do automobilismo sempre testemunhou a ascensão e a supremacia de alguns protagonistas.

Limitando-nos à era contemporânea da Fórmula 1, podemos destacar o domínio absoluto da McLaren no final dos anos 80, que contava com os lendários pilotos Alain Prost e Ayrton Senna. O MP4/4 conquistou impressionantes 15 vitórias em 16 corridas na temporada – a única exceção foi o GP da Itália, onde a Ferrari garantiu uma dobradinha em meio a uma atmosfera de luto pela morte do comendador Enzo, proporcionando aos tifosi uma celebração memorável.

Memórias da Fórmula 1

E que tal relembrar também o domínio da Ferrari no início dos anos 2000? Com Michael Schumacher ao volante, a equipe de Maranello conquistou cinco títulos consecutivos, estabelecendo novos padrões de excelência na Fórmula 1 e elevando o piloto a um status divino no panteão do esporte. Em 2002, Schumacher alcançou o pódio em todas as corridas da temporada – uma façanha que permanece incomparável até os dias de hoje. No ano de 2004, ele triunfou em 13 das 18 etapas do campeonato.

Não podemos ignorar o recente domínio da Mercedes, que durante o período de 2014 a 2021 garantiu o campeonato de construtores e, de 2014 a 2020, viu Lewis Hamilton erguer o troféu de campeão mundial de pilotos em seis ocasiões. Um dos grandes feitos da história da categoria.

Então, para terminar, vamos esclarecer uma coisa: a Fórmula 1 não está chata. Hegemonias são uma realidade não apenas nessa categoria, mas em todo o mundo esportivo. Times como o Real Madrid ou o Ajax tricampeões da Champions League, o Manchester City, tricampeão da Premier League, ou o São Paulo, tricampeão brasileiro, ilustram como a excelência e a busca constante pelo sucesso são recompensadas. Ninguém criticou o futebol por isso, nem disse que ele estava chato.

Se você ainda continua com esse tipo de pensamento, vale a pena um autoquestionamento: “Será que eu gosto mesmo de Fórmula 1, ou o que eu gosto é de ver meu piloto preferido vencer?”. Não há nada de errado em torcer por alguém, mas quando esse alguém não vence, isso não quer dizer que o esporte tem problemas, existe um abismo de diferença entre as duas coisas.

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