A automedicação é uma prática cada vez mais comum na sociedade contemporânea, muitas vezes motivada pela facilidade de acesso a medicamentos sem prescrição médica e pela busca na internet sobre soluções rápidas para problemas de saúde. No entanto, essa prática aparentemente inofensiva pode trazer sérias consequências para a saúde das pessoas.
Ao se automedicar, indivíduos podem assumir riscos muitas vezes desconhecidos, ignorando potenciais interações medicamentosas, efeitos colaterais adversos e até mesmo mascarando sintomas de doenças mais graves, o que pode resultar em complicações significativas. Neste contexto, é fundamental discutir os perigos da automedicação e promover a conscientização sobre a importância de buscar orientação profissional antes de iniciar qualquer tratamento farmacológico.
Há grandes riscos comprovados em pesquisa sobre a automedicação
A automedicação consiste na prática de utilizar medicamentos para aliviar sintomas sem a orientação médica adequada seja no diagnóstico, ou na prescrição ou no acompanhamento do tratamento. Estima-se que, no Brasil, aproximadamente 89% da população já se automedicou, ou seja, adquiriu medicamentos sem a prescrição médica devida.
Além da facilidade do acesso a medicamentos que deveriam ser de uso mais restrito, a abundância de informações médicas acessíveis na internet tem contribuído para que as pessoas realizem seus “próprios diagnósticos”. Isso têm gerado um aumento no uso indiscriminado de medicamentos, tornando-o um dos principais desafios para a saúde no Brasil.
Segundo pesquisa do ICTQ (Instituto de Pesquisa e Pós-Graduação para o Mercado Farmacêutico), todos os anos, são contabilizados aproximadamente 30 mil casos de hospitalização devido à intoxicação por medicamentos, resultando em cerca de 20 mil óbitos no território nacional. Isso acende um alerta sobre a maneira com que as pessoas estão usando os fármacos no país. Há oito anos, o ICTQ identificou que 76% da população declarava se automedicar sem qualquer reserva. Em 2016, esse índice variou para 72%; em 2018 cresceu para 79%, e em 2020 subiu para 81%, até atingir o patamar atual de cerca de 89% da população brasileira.
Em um outro estudo, dessa vez realizado pelo Conselho Federal de Farmácia em 2019, foi revelado uma forma distinta de automedicação, envolvendo medicamentos prescritos. Nessa modalidade, após consulta médica e recebimento da prescrição, algumas pessoas não seguem as orientações corretas, modificando a dosagem recomendada. Essa conduta foi observada pela maioria dos participantes da pesquisa (57%), especialmente entre homens (60%) e jovens com idades entre 16 e 24 anos (69%).
Tarja vermelha, preta, amarela, sem tarja? Como funcionam?
No Brasil, a classificação dos medicamentos quanto ao risco que apresentam é simbolizada por tarjas de diferentes cores nas embalagens. Essa classificação é estabelecida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e ajuda a identificar se um medicamento pode ser vendido com ou sem receita médica. Veja um resumo sobre o que cada cor representa:
- Tarja Vermelha: Medicamentos que necessitam de receita médica. A tarja vermelha indica que o medicamento pode trazer riscos à saúde se não for utilizado conforme prescrito. Neste caso, ao apresentar sua receita ela pode ficar retida na farmácia ou não, a depender do risco associado ao uso do medicamento.
- Tarja Preta: Medicamentos de controle especial, sujeitos a receita de controle especial em duas vias. Esta tarja indica que o medicamento possui alto potencial de causar dependência física ou psíquica. Uma via da receita fica retida na farmácia e a outra é devolvida ao paciente com um carimbo que informa que foi vendida.
- Sem Tarja (Tarja Branca): Medicamentos que podem ser vendidos sem receita médica. São considerados de baixo risco e geralmente são usados para tratar condições menos graves que não requerem supervisão médica para seu uso seguro e efetivo.
- Tarja Amarela: Era usada para indicar medicamentos genéricos, mas essa designação foi abolida. Atualmente, os medicamentos genéricos podem ser identificados pela inscrição “Medicamento Genérico” em suas embalagens e também podem ter tarja vermelha ou preta, dependendo da necessidade de prescrição.
Essas tarjas são uma forma de regulamentar e orientar o uso de medicamentos, garantindo maior segurança para os consumidores e controlando a dispensação de substâncias que podem ser mais perigosas ou sujeitas a abuso. A receita médica para medicamentos tarjados deve ser prescrita por um profissional de saúde habilitado.
Quais sequelas que a automedicação pode causar?
As consequências da automedicação podem ser muito diversas. Os riscos são altos e, na maioria das vezes, os pacientes não estão ciente de todos eles. Neste contexto, é fundamental examinar de forma detalhada quais são os potenciais danos e impactos que o uso indiscriminado de medicamentos pode gerar no organismo humano. Selecionamos alguns dos riscos e também as sequelas que a medicação sem cuidado prévio pode provocar nas pessoas.
Resistência
Utilizar medicamentos de forma inadequada, sem prescrição médica, pode comprometer sua eficácia ou até mesmo anular seus efeitos. Esse cuidado é especialmente crucial no caso dos antibióticos, pois seu uso indiscriminado pode resultar em alterações genéticas em bactérias, levando à resistência ao medicamento. Esse fenômeno não apenas torna o tratamento mais desafiador, mas também reduz as opções terapêuticas disponíveis.
Interação Medicamentosa
A autoadministração de medicamentos pode promover uma perigosa interação medicamentosa ao combinar diferentes medicamentos sem orientação profissional. Sem o devido acompanhamento médico, indivíduos podem inadvertidamente misturar substâncias que interagem de forma nociva no organismo, potencializando ou anulando os efeitos de determinados medicamentos. Essas interações podem resultar em efeitos colaterais graves, toxicidade ou redução da eficácia do tratamento, representando um sério risco para a saúde.
Efeitos colaterais intensos
Os medicamentos, mesmo aqueles tidos como inofensivos, têm o potencial de desencadear efeitos colaterais, os quais podem variar de pessoa para pessoa, levando em consideração a sensibilidade individual, condições orgânicas específicas e possíveis interações com outras substâncias. Portanto, a automedicação apresenta mais um risco significativo: a possibilidade de efeitos colaterais graves devido ao uso inadequado de medicamentos. Além disso, ao se automedicar, a pessoa não possui o conhecimento necessário para identificar as reais necessidades de seu organismo.
Intoxicação
Os medicamentos contêm diversas concentrações de princípio ativo, e a quantidade necessária pode variar de acordo com as características individuais de cada pessoa, assim como a resposta ao tratamento pode diferir mesmo com o uso do mesmo medicamento. Um dos perigos associados à autoadministração de medicamentos é justamente a falta de consideração desses fatores, o que pode resultar em intoxicação. Além disso, a interação com outros medicamentos e o armazenamento inadequado dessas substâncias são aspectos que merecem atenção, pois podem alterar sua composição e comprometer sua eficácia terapêutica.
Dependência
Certos medicamentos podem induzir à dependência se utilizados de maneira inadequada ou por períodos prolongados. O corpo pode desenvolver uma dependência da substância, levando a uma sensação de bem-estar apenas quando ela é administrada. Isso representa um risco significativo para a saúde geral, podendo afetar órgãos específicos como rins, fígado, coração e pulmões, por exemplo.