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Japão adapta vistos para imigrantes em tempo de mudança econômica

Lucas Morais, Jean Felipe em 3/maio/24, atualizado 3/maio/24 às 22h – Compartilhe
Bicicleta seguramente deixada em uma rua japonesa. Foto: Muhammad Irfan/Unsplash.
Bicicleta seguramente deixada em uma rua japonesa. Foto: Muhammad Irfan/Unsplash.

O Japão se manteve nas últimas décadas reconhecido por suas habilidades impressionantes em realizar muito mesmo com recursos naturais limitados. Essa capacidade ficou tão marcada na história econômica que até se tornou um capítulo específico, contrastando com países privilegiados neste quesito, como o próprio Brasil.

No entanto, até mesmo as economias mais fortes podem enfrentar dificuldades. Apesar do crescimento nominal de 1,9% no ano passado, o Japão caiu do terceiro para o quarto lugar na lista das maiores economias do mundo. Além disso, o país apresentou dois trimestres consecutivos de contração de seu produto, o que já caracterizam uma recessão, segundo a teoria macroeconômica.

Para piorar, a divisa japonesa sofreu nova desvalorização em relação ao dólar americano, alcançando o valor de 155 ienes por dólar, o menor em 34 anos.

Mas o que teria levado uma economia tão organizada a enfrentar uma recessão depois de anos de crescimento? Nesse artigo, citamos possíveis causas que levaram o Japão a esse cenário econômico e falamos sobre os novos vistos para imigrantes.

Quais fatores fizeram o Japão entrar em recessão?

Uma das causas que certamente trouxe impacto foi a já citada queda de poder do iene em relação ao dólar americano. Essa queda atingiu os investimentos envolvendo a moeda japonesa, já que o país se esforça para incentivar o consumo e, por isso, desde 2016, os bancos passaram a introduzir taxas de juros negativas.

Essa medida tinha como objetivo induzir a população a consumir no curto prazo, diminuindo sua propensão marginal a poupar, que é historicamente muito forte no Japão. No entanto, com taxas de juros negativas, o iene se torna muito pouco atrativo para os investidores estrangeiros. O resultado disso foi uma grande desvalorização da moeda frente ao dólar, o que é suficiente para o Japão perder forças no mercado global.

Antigo prédio de arcades da SEGA no Japão. Foto: Jezael Melgoza/Unsplash.
Antigo prédio de arcades da SEGA no Japão. Foto: Jezael Melgoza/Unsplash.

Há, ainda, uma queda na demanda e um aumento do custo de vida. No Japão, mais da metade da atividade econômica é impulsionada pelo consumo privado. Recentemente, o índice desse consumo registrou uma queda de 0,2%, contrariando as expectativas, que previam um crescimento de 0,1%. Já é o terceiro trimestre consecutivo que, tanto o consumo privado quanto as despesas de capital estão em contração, o que tem contribuído para o desaquecimento da economia.

Envelhecimento da população

Paralelo a esse cenário econômico recente, está um problema recorrente para a economia japonesa: o envelhecimento da população. Há anos, a população do Japão tem enfrentado um declínio contínuo e um envelhecimento progressivo.

Em 2023, o país registrou pela primeira vez que uma em cada 10 pessoas tinha mais de 80 anos. Os dados também revelaram que cerca de 29,1%, quase um terço, dos 125 milhões de japoneses, estavam na faixa etária de 65 anos ou mais.

O Japão tem uma das taxas de natalidade mais baixas do mundo e com isso, a chamada “pirâmide etária” acaba ficando invertida, isto é, há uma falta de contingente na população economicamente ativa para suprir o fornecimento de bens para a população mais idosa. Basicamente, há uma escassez de mão de obra para determinadas áreas dentro do Japão.

Japão amplia visto para imigrantes; A complexa economia atual do país
Senhor japonês trabalhando. Foto: Max Mayorov/Flickr. Licença Creative Commons.

Visto japonês de trabalhadores estrangeiros e para “nômades digitais”

Resolver o problema da falta de mão de obra é importante para valorizar o cenário econômico do Japão. Em 2019, o governo japonês criou um programa para atrair mais trabalhadores estrangeiros: Os imigrantes poderiam ficar no país por até 5 anos, com a possibilidade de renovação do visto se cumpridos requisitos básicos.

Esse movimento do governo foi muito importante para que as empresas se tornassem mais receptivas aos estrangeiros facilitando o processo de contratação. Mas não bastando isso, este ano o Japão anunciou mais outra importante medida, desta vez para os “nômades digitais”, sendo um novo visto específico para pessoas que trabalham diretamente em seus computadores.

Esse novo visto permite a trabalhadores remotos residirem no país por até seis meses, desde que tenham uma renda anual de no mínimo 10 milhões de ienes (aproximadamente US$ 68.000 ou R$ 340 mil). Há a necessidade também de ser cidadão de um país com parceria com o Japão para a isenção de visto, como o Brasil é atualmente, além de possuir seguro de saúde. O visto atual de turista, que limita a estadia a 90 dias e proíbe trabalho remunerado, será substituído por este novo status caso a pessoa se encaixe, o qual também permite a entrada de membros da família cobertos pelo mesmo seguro.

Alta recorde na imigração pode revigorar o mercado japonês, mas ainda há obstáculos

Atualmente as taxas de imigrantes estrangeiros são as mais altas da história do Japão. Em dados recentes divulgados pela Agência de Serviços de Imigração japonesa, o número de trabalhadores estrangeiros alcançou um patamar recorde de 3,4 milhões, representando um aumento considerável em relação a 2023.

Entretanto, a estratégia política do Japão para atrair trabalhadores estrangeiros está alcançando um ponto de inflexão. Por mais que haja uma quantidade considerável de estrangeiros trabalhando em áreas voltadas para o setor industrial e relacionados, a escassez geral por mão de obra ativa ainda persiste.

Em geral, espera-se que o país consiga reverter a situação atual, impulsionando o consumo privado e ampliando sua capacidade de atrair investimentos. Contudo, são esperadas mais medidas de curto prazo para uma estabilização rápida e eficaz.

O Japão nos últimos anos foi conhecido por oferecer estabilidade, ter uma baixa inflação durante décadas e custo de vida bastante favorável, e sem dúvidas, esperamos que o país volte a ser visto como a “terra do futuro”, adaptando-se a novos desafios tanto internos quanto externos.

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